Há já algum tempo que ele sabia que tudo estava acabado, que aquela ternura violenta que sentiam há uns meses atrás não existia mais.
Ele sabia que já não era aquele o corpo que lhe apetecia, não era aquela a voz que ansiava ouvir quando chegava a casa, não eram os problemas dela que o preocupavam, mas fingia que era tudo como antes.
Nenhum deles tinha coragem para pôr um ponto final naquela história, que ambos sabiam terminada, por falta de coragem, talvez, mas principalmente porque pensavam sempre que no outro dia quando acordassem ficariam felizes por estarem ao lado um do outro, e abraçar-se-iam como antes, como se fosse uma surpresa muito boa terem-se encontrado os dois, naquela cama, como se quisessem agradecer um ao outro o facto de estarem ali. Mas isso não acontecia e continuavam os dois, calados, quietos no seu canto, a viver cada um a sua vida, sem o NÓS que antes existia.
Às vezes saíam juntos, ao fim de semana principalmente, enfiavam-se nos centros comerciais para não terem que estar sós um com o outro, para não terem que suportar a solidão um do outro. Também iam ao cinema, pelo menos lá não se sentiam na obrigação de conversar, lá não tinham que conviver com o incómodo silêncio que morava com eles.
Num desses dias, iam pela rua, de mão dada (como sempre, não que isso fosse importante, mas era hábito) e “apareceu” um poste, exactamente, entre os dois, nenhum deles hesitou, soltaram as mãos e cada um foi por um lado do poste. Nesse dia, já não foram juntos ao cinema, nesse dia ele arrumou as suas coisas e saiu e ela não derramou uma única lágrima, afinal o poste só lhes mostrou o que há muito sabiam.
Friday, August 18, 2006
(foto "roubada" do Via Dupla)
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